sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Os 20 infográficos mais populares de 2010 da The Economist

Happy new year


quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Recarregue seu iPhone no vento


A Holanda é um país majoritariamente plano. Talvez por isso os holandeses andem tanto de bicicleta. Com certeza por isso eles fazem uso da energia eólica. Quem sabe não foram esses dois elementos que inspiraram o designer Tjeerd Veenhoven a criar um carregador de iPhone movido à energia do vento?


O iFan tem um esquema simples de funcionamento. Uma hélice que transforma energia do vento em energia elétrica foi acoplada a uma capa especial para o telefone da Apple. Ela se conecta à bateria do aparelho e transfere a energia. Simples como assoprar um cata-vento, não?

O criador do gadget recomenda que ele seja usado na praia, na janela do carro ou, é claro, durante passeios de bicicleta. Dessa maneira ele conseguiu uma carga completa em seis horas de uso. O iFan está em versão beta e, segundo Veenhoven, o tempo de uso pode ser diminuído na medida em que usar uma hélice maior ( info online ).

Como é produzido um cd

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Esculturas líquidas

Uma interessante forma de criar arte com água é o trabalho do artista Jackson Pollock. Utilizando água espalhada pela suas mãos ele produz imagens fantásticas que são capturadas pelas lentes de sua máquina fotográfica, criando uma forma de arte inovadora. Veja abaixo, um vídeo com a realização do trabalho de Jackson.
Water Sculpture from Shinichi Maruyama on Vimeo.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

É inverno no hemisfério norte


December 2010 Blizzard Timelapse from Michael Black on Vimeo.

O inverno na costa leste dos Estados Unidos bateu forte neste natal. A nevasca paralisou boa parte dos serviços de transportes causando problemas a milhares de pessoas. No vídeo acima, você verá uma sequência de imagens obtidas por uma câmera Canon montada em um tripé com um temporizador remoto, tirando uma foto a cada 5 minutos durante 20 horas.

De que é feita a tequila



Conta a história que foi dos restos da deusa pré-hispânica Mayahuel - enterrados pelo deus Quetzalcoatl - que nasceu a primeira planta do agave para fornecer aos homens produtos que lhes dariam gozo e prazer. 


Especialistas no tema asseguram que quase todas as culturas do México pré-hispânico utilizaram o agave convertendo em um elemento "onipresente" em sua cultura. Somente no México, crescem pelo menos 136 espécies do agave, cerca de 26 subespécies, 29 variedades e sete formas, afirma a pesquisadora Cristina Barros, acrescentando que crescem em climas semissecos a temperaturas médias de 22 graus e geralmente a uma altitude de 1.500 a 2.000 metros acima do nível do mar. 



A planta foi adotada no México pelas diferentes culturas milenares para ser usada principalmente na elaboração de bebidas tradicionais como o pulque - que se obtém da fermentação do suco da planta denominado aguamiel - a tequila e o mezcal - resultado da destilação de tal suco. 



Atualmente, nos estados de Hidalgo, Tlaxcala e Puebla - centro do México - e no sul do Distrito Federal - é onde cresce principalmente o agave dedicado ao pulque, enquanto nos estados de Jalisco (oeste) e Oaxaca (sul) se produz a planta destinada à tequila e ao mezcal, respectivamente. 



Vestígios sobre a elaboração de vinagre ou da fabricação de cestas e laços, que foram também produto do agave, são, segundo a antropóloga Dora Sierra, prova de que os antigos habitantes da América Central já conheciam e dominavam os usos da planta há pelo menos uns 10.000 anos.



Símbolo de identidade nacional


Através do tempo, o agave desempenhou um papel preponderante no âmbito econômico e cultural do México. Sua figura, assegura a antropóloga Marta Turok, "deu forma e rosto ao México" e hoje, como elemento recorrente na arte e na gastronomia, "o identifica como nação". 


Finalizada a Revolução Mexicana (1910-1917) o agave se transformou em símbolo da nação mexicana quando o país buscava elementos que o identificassem como país. 



O agave, assinala Marta, como "referente cultural do mexicano e símbolo de identidade nacional" representou o México, junto com a figura do mariachi, do charro (cavaleiro), da china poblana e da santa morte.


 A árvore das maravilhas

O cronista José Acosta classificou o agave como “árvore das maravilhas”, porque dele se consegue um aproveitamento integral. De suas flores (que só brotam uma vez ao ano) se extrai doce, enquanto das "pencas" (folhas) se obtém "ixtle" (fibra) com a qual se tecem roupas, sapatos, cobertores, laços, redes e cordas. As pontas das pencas servem às vezes de agulha para tecer tais elementos e também para cozer as aves recheadas. Além disso, a base das pontas serve de alimento para o gado, e completas são utilizadas para construir os tetos das casas. 


Com o miolo, fervido ou assado, se elaboram doces, enquanto a raspagem proporciona o “aguamiel” para as bebidas alcoólicas e para o açúcar. Inclusive os "meocuiles" (vermes brancos) e os "chinicuiles" (vermes vermelhos) que vivem em suas raízes são usados como alimento, bem tostados ou fritos vivos em um "comal" (frigideira artesanal) para serem comidos com sal ou com omelete.




O agave "foi quase tão importante como o vínculo que os mexicanos mantiveram com o milho", assegura Dora Sierra, e suas colheitas serviram como referência em várias tradições. 


O agave esteve associado à fertilidade, ao erotismo e à morte e, portanto, foi o elemento central das festas e das cerimônias. Transformado em pulque agradou. A bebida era chamada de "néctar dos deuses" e formou assim parte dos três líquidos vitais, junto com o sangue e a água, com os quais as culturas pré-hispânicas asseguravam sua permanência material e espiritual ( do globo rural ).

sábado, 25 de dezembro de 2010

As melhores fotos da década

Uma irreparável seleção de imagens de uma década pelo TotallyCoolPix

As cidades à noite


HD Time Lapse Footage Showreel 2010 - Night Rush Around the World from HDtimelapse.net on Vimeo.

Um show de luzes no natal


DJ Light (DJ Luz), Lima 2010 from Cinimod Studio on Vimeo.

O vídeo acima deve estar entre as melhores apresentações inovadoras do natal de 2010. Instalado em uma praça na cidade de Lima, no Peru, o DJ Light é uma instalação de arte que permite as pessoas criar cenários com um simples aceno de mão. A instalação foi concebida por técnicos do Cinimod Studio para as festividades de Natal da empresa de energia Endesa, e é composta de 85 infláveis gigantes globos de luz, cada um preenchido com luzes de LED capazes de exibir milhões de cores.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Feliz Natal

Festival de Luzes de Inverno, Cataratas do Niágara, Canadá
Decoração de Natal no St. Mark's Square, em Veneza, Itália
cidade de Estrasburgo, na França
Gubbio, na província de Perugia, uma árvore com luzes montada nas montanhas da cidade

O natal já foi celebrado em várias datas


Houve um tempo em que a Igreja não comemorava oficialmente o Natal – entre outros motivos, por não saber o dia em que Jesus nasceu. Embora o período tivesse sido mais ou menos calculado (a data seria no ano 6 a.C), em nenhum momento, nos primeiros 200 anos do cristianismo, o dia é mencionado. A especulação só começou por volta dos séculos 3 e 4, em resposta aos festejos promovidos pelos romanos com orgias e banquetes em reverência a divindades pagãs.
Nessa época, pelo menos oito datas diferentes foram propostas para o nascimento de Cristo. Duas datas, entretanto, prevaleceram e são usadas até hoje. Primeiro, veio o 6 de janeiro, uma comemoração feita no Oriente para o suposto dia em que Jesus fora batizado – a Igreja Ortodoxa armênia comemora o “natal” nesse dia.
A partir do ano 336, quando o imperador Constantino já havia declarado o cristianismo como a religião do Império Romano, veio o 25 de dezembro, adotado pela Igreja ocidental. O 6 de janeiro ficou, então, reservado ao dia em que Cristo teria aparecido aos três Reis Magos, herança das lendas epifânicas, nas quais os deuses se manifestam aos seres humanos.
As escolhas das datas não foram aleatórias. Ambas rivalizavam com festas pagãs realizadas no mesmo período, como a da religião persa que celebrava o Natalis Invicti Solis, a do deus Mitra e outras decorrentes do solstício de inverno e dos cultos solares entre os celtas e germânicos. “O 25 de dezembro foi uma conveniência para facilitar a assimilação da fé cristã pela massa de pagãos”, admite Mario Righetti, um dos mais renomados intelectuais católicos, em sua obra História da Liturgia, de 1955 ( aventuras na história ).

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Uma seleção extraordinária do portal HSM Management com as matérias e artigos mais  lidos do ano. Para quem não é assinante, uma ótima oportunidade de aprimorar os conhecimentos. O tipo de post para ir para os favoritos, afinal são dezenas de arquivos para ser lidos com atenção pelo valor que possuem.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

O Google apresenta mais uma extraordinária ferramenta de pesquisa

O Google acaba de lançar mais uma extraordinária ferramenta de pesquisa. O Ngram , que lhe permite ver quantas vezes uma determinada palavra tem sido usada em livros desde 1800. No gráfico acima, é retratada a mídia - revistas, jornais e a internet desde 1800. Pode-se observar que o pico das revistas e jornais deu-se em 1940 e a internet há 20 anos atrás começou a ter destaque e, muito provavelmente, em pouco tempo irá superar tanto as revistas e jornais. Por enquanto, a ferramenta não está disponível no nosso idioma, mas independente disso vale a pena dar uma pesquisada usando termos de interesse próprio.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Eclipse lunar total

Amanhã, 21, ocorrerá um eclipse lunar total. Para que ocorram os eclipses é necessário que o sol, a lua e a terra estejam diretamente alinhados, e justamente a quatro dias do natal este evento ocorrerá. A visibilidade está mostrada na imagem acima ( clique nela para ampliar ). Abaixo veja outra imagem que mostra como ocorre um eclipse lunar, e aqui e aqui saiba mais sobre eclipses.

O analfabetismo no Brasil

A taxa de analfabetismo da população brasileira tem diminuído gradativamente, mas não o suficiente para elevar o nível educacional no país. É isso o que revela o mais recente estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) com base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) 2009, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O documento intitulado Primeiras Análises: Situação da Educação Brasileira - Avanços e Problemas mostra que, ainda que a média de anos de estudo tenha subido, o país ainda tem 9,7% da população analfabeta, ou seja, cerca de 14 milhões de pessoas. De 1992 a 2009, esse número teve uma queda de 7,5 pontos percentuais, mas isso não se deu de maneira igualitária em todo o país. A diminuição mais acentuada ocorreu no Nordeste, cuja população analfabeta passou de 32,7% em 1992 para 18,7%, em 2009. "Essa região teve um impacto maior causado pelas políticas públicas destinadas à redução do analfabetismo, principalmente nos grupos de idade mais avançada, como programas de alfabetização. Ainda assim, o Nordeste concentra um número de analfabetos maior que a média nacional", explica Jorge Abrahão de Castro, diretor da Diretoria de Estudos e Políticas Sociais do IPEA. No estudo, chama a atenção também a estagnação do indicador nas demais regiões do país (acima).

...e o IDH
Os indicadores educacionais puxaram para baixo a colocação do Brasil no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). O país ficou na 73ª posição entre 169 países avaliados (veja o gráfico acima). Nossa classificação no ranking é pior do que a de outros países sul-americanos, como o Chile e o Peru, devido a fatores como anos de escolaridade. A população brasileira adulta registra 7,2 anos de estudo, enquanto a do Chile tem 9,7, e a do Peru, 9,6. Segundo Flávio Comim, coordenador do Relatório de Desenvolvimento Humano Brasileiro, nações como o Peru podem ser mais pobres, mas vão melhor que o Brasil quando o assunto é o sistema educacional. "Para avançarmos, é necessário diminuir a evasão, o abandono e a repetência."  ( nova escola ).

domingo, 19 de dezembro de 2010

O vinho francês mais famoso do mundo


Há sempre um instante de silêncio completo, de respiração contida e sentidos em alerta quando se está prestes a libertar o conteúdo de uma garrafa de espumante. É um segundo de suspense, de antecipação. Um momento contido sob 6 atmosferas de pressão, uma rolha de cortiça e uma gaiola de metal. Impossível dizer que é somente um vinho.
Não há "somente" em nada relacionado aos espumantes, nem em sua história - controversa, cheia de lendas -, nem em seus estilos - do muito seco ao doce -, nem em seus métodos - tradicional ou Charmat -, nem mesmo em sua presença brilhante e borbulhante na taça. O vinho espumante é sempre sinônimo de que algo importante e diferenciado está acontecendo.


Muitas histórias, algumas verdades

Quem antecipa com prazer a intromissão das borbulhas no olfato e no palato e o travo seco, frutado e ácido no final de boca, com certeza conhece algumas das histórias ligadas ao Champagne, o vinho francês mais famoso do mundo. Como a do monge beneditino Dom Pérignon, que reconheceu a espumatização característica do vinho e, no trabalho de uma vida estudando uma maneira de tirar as borbulhas dele, entrou para a tradição do Champagne como a pessoa que mais forneceu elementos para o que a bebida é hoje.

Outra personagem indelevelmente ligada à sedução em forma líquida é a viúva Clicquot, que lutou para permanecer com sua vinícola aberta, contrariando o sogro, e trabalhou arduamente ao lado de um chefe de cave para sistematizar a maneira de retirar os sedimentos do vinho quase pronto e assim obter uma bebida límpida. Ao lado dela, com uma atuação mais ligada ao luxo que se espera de um Champagne, está Madame Adéle Jouët, da Perrier-Jouët, que incorporou a arte da Belle Époque às suas garrafas de Champagne pintadas à mão, as primeiras Brut da França (até a metade do século XIX quase todos os Champagnes eram doces ou meio-doces).
Sejam quais forem as histórias, mesmo as tristes, como as das inúmeras guerras travadas na região de Reims - não por acaso, as batalhas terrestres eram mais fáceis de serem travadas em campos abertos como os da campanha francesa, ou Champagne, claro -, essa é uma região de tradição para a produção de uvas delicadas e concentradas o suficiente para suportarem não uma, mas duas fermentações e, ao final, serem traduzidas em um néctar de caráter raro.
A região de Champagne, na França, delimitou as regras e impôs, pela qualidade final de seus produtos, os padrões a partir dos quais todos os outros vinhos espumantes do mundo são avaliados. Da mesma forma que não se fala em celebração sem uma garrafa de espumante, não se fala em espumantes sem falar de Champagne.


No método Charmat, segunda fermentação é feita em autoclaves de inox

Um vinho construído

Dentro de uma garrafa de Champagne (e de muitos bons espumantes também), encontra-se mais do que o mosto de uvas fermentadas, comuns a qualquer outro vinho chamado tranquilo (que não tem borbulhas). O nascimento do Champagne deve-se a causas climáticas da região norte da França. Por lá, as temperaturas tendem a baixar com rapidez no outono interrompendo a fermentação dos açúcares das uvas Chardonnay e Pinot. Os vinhos eram engarrafados e deixados assim até a próxima estação, quando as temperaturas voltavam a subir e as leveduras e os açúcares que ainda estavam lá entravam novamente em atividade, fazendo com que muitas garrafas explodissem nas adegas.

O estudo desses processos nos dois últimos séculos evoluiu, não para parar essa segunda fermentação como desejava Dom Pérignon, mas para conservá- -la e incentivá-la, uma vez que o vinho proveniente desse processo era diferenciado e elegante. O que começou como um acaso da natureza, bem aproveitado pelo homem, transformou-se em uma série de processos complexos pouco modificados nas últimas décadas, fazendo com que os espumantes sejam os vinhos de elaboração mais distinta.
Gargalo com as leveduras é congelado para fazer o dégorgement
A maneira tradicional de se preparar um espumante (também chamada de Champenoise) é aquela em que os vinhos base (no caso de Champagne entram as uvas Chardonnay, Pinot Noir e Pinot Meunier) são combinados depois de pelo menos um ano de sua primeira fermentação, recebem a adição de leveduras e açúcar e vão para as garrafas com tampas de metal. As garrafas vão para caves de temperatura baixa constante e, em aproximadamente uma semana, a nova fermentação é iniciada. Durante um ano, pelo menos, essas garrafas serão mantidas em prateleiras conhecidas como pupitres.
Nos primeiros oito meses desse processo, formam- se as borbulhas e uma parte dos aromas, depois disso as garrafas passam a ser giradas todos os dias (processo de remuage) e vão sendo cada vez mais inclinadas, para que as leveduras e os sedimentos se concentrem no gargalo.

Quando o chefe de cave decide que o vinho chegou ao ponto do estilo daquela vinícola (esse processo de repouso sobre as leveduras pode levar até três anos), as garrafas são resfriadas a zero grau, estabilizadas e depois colocadas com o gargalo em uma solução de salmoura gelada, que solidifica as leveduras no bocal. Quando a tampa de metal é retirada (processo de dégorgement), a pressão interna do líquido expulsa o tampão de leveduras.
Nesse momento, é adicionada uma pequena quantidade de licor de expedição, uma mistura de açúcar e álcool vínico que dará ao espumante seu estilo em relação ao conteúdo final de açúcar (ver box na página ao lado). Na sequência, a rolha e a gaiola são colocadas e o espumante estará pronto, só necessitando de descanso e resfriamento para poder ser degustado.


Apressando o processo

Os espumantes são um estilo de vinho que agradam uma enormidade de consumidores. Por isso, as vinícolas precisaram desenvolver um método de elaboração que fosse capaz de apressar o longo processo tradicional. Foi assim que surgiu o método Charmat (inventado pelo enólogo italiano Federico Martinotti e patenteado em 1907 pelo francês Eugène Charmat), em que a segunda fermentação ocorre em um tanque de aço inoxidável, capaz de suportar a pressão resultante da liberação de gás carbônico.
Da mesma forma que no método tradicional, os vinhos base são combinados e recebem a adição de açúcar e leveduras. Mas, ao invés de irem para as garrafas, essa mistura vai para um tanque onde a segunda fermentação ocorre sob temperaturas um pouco superiores às do método tradicional, apressando o processo.


Leveduras que agem sobre o vinho base vão morrendo. Para que elas não deixem o líquido turvo, as garrafas são colocadas nos pupitres (foto ao lado)

Terminada essa segunda fermentação, o líquido é resfriado a uma temperatura negativa, acrescenta-se açúcar da mesma forma que no licor de expedição do Champenoise e o produto fica repousando, enquanto as leveduras sedimentam- -se no fundo do tanque. Pouco mais de uma semana depois, o espumante é filtrado e transferido para um outro tanque com pressão negativa e engarrafado a frio. Alguns espumantes feitos no método Charmat aumentam a parte do processo de fermentação, para que o vinho fique mais tempo em contato com as leveduras e assim ganhe mais sutilezas. Esse método é conhecido como "Charmat longo" e é muito utilizado no Brasil e na Itália, por exemplo.
Outro espumante que tem um método de produção mais rápido (em algumas regiões em menos de um mês o vinho está pronto) é o preparado com as uvas Moscatel. Conhecido como "método Asti", por ter sido desenvolvido por italianos na cidade de mesmo nome, ele produz o espumante com apenas uma fermentação, interrompendo o processo quando o açúcar das uvas ainda não foi inteiramente transformado em álcool. Isso garante um produto mais adocicado e de menor teor alcoólico, que agrada paladares mais seduzidos pelos açúcares.


Borbulhas pelo mundo


O professor de sociologia e filosofia do Senac, Hélio Hintze, explica que celebrar é inerente ao ser humano. Celebramos o final de um ciclo e a passagem para uma nova situação em rituais que podem parecer distintos em diferentes localidades, mas que guardam um mesmo sentido. "O homem vivia em grande conexão e dependência da natureza e assim celebrava o final ou a chegada das chuvas, a mudança das estações e os momentos em que a vida tomava novos rumos. A bebida alcoólica estava sempre inserida nesse contexto, como forma de ligação com os deuses e de liberação catártica. Esse é um sentido que reproduzimos até hoje, quando abrimos uma garrafa de Champagne na passagem do Ano Novo", conta Hélio.
Talvez seja por isso que os espumantes são feitos em diversos países europeus e em todo o Novo Mundo do Vinho (ver box na próxima página). Alguns deles chegam a ter o status dos bons Champagnes, como é o caso de algumas Cavas espanholas, dos Franciacorta italianos e de alguns espumantes Brut brasileiros.
Todos eles, no entanto, seguem de alguma maneira as regras estabelecidas nos métodos tradicional e Charmat, com cepas mais bem adaptadas a seus terroirs e fazendo uso de algumas tecnologias mais modernas, como é o caso do giropalete, um equipamento que faz o remuage de uma centena de garrafas ao mesmo tempo, com precisão milimétrica, facilitando o trabalho no método tradicional.
Para os consumidores, no entanto, a qualidade, o preço e o sabor finais importam mais do que qualquer dado técnico, assim, os dois métodos (tradicional e Charmat) apresentam vantagens e desvantagens.
O investimento em equipamento para fazer espumantes em que a segunda fermentação ocorre em tanques de aço inoxidável é muito grande, pois devem ser comprados, no mínimo, dois tanques paralelos e a utilização de eletricidade é ininterrupta. Ademais, se não houver clientes terceirizados, o equipamento ficará ocioso em poucos meses depois da produção. O reverso dessa moeda é que o espumante ficará pronto mais rápido, chegando ao mercado mais cedo, onde poderá ser vendido e o investimento começará a retornar.
Já no método tradicional, o investimento em equipamentos é pequeno, mas uma boa cave de temperatura controlada é essencial e o treinamento de pessoal especializado é fundamental. Esse é um vinho que se apóia no talento de quem o faz. Por outro lado, seu longo processo inviabiliza a comercialização rápida, assim, o investimento, embora menor, demora a retornar.


Mesmas uvas, sabores diferentes

Qualquer enólogo que se preze vai dizer que o bom vinho se faz no vinhedo. É possível fazer mau vinho de boa uva, mas o contrário é impossível. E isso também é verdade para os espumantes. No caso de Champagne, o solo calcário gipsífero das encostas das montanhas de Reims privilegia as uvas do corte clássico que são colhidas ainda com alta acidez e pouco açúcar, mas já tendo extraído do solo os componentes que permitem que o fermentado delas ganhe caráter com as duas fermentações. Provavelmente, é nesse ponto que reside o verdadeiro segredo dos Champagnes.
O enólogo Adolfo Lona, presidente da Comissão de Produtores de Espumantes de Garibaldi, cidade que foi a primeira brasileira a produzir espumantes de alta qualidade, explica que o método tradicional de produção dá ao espumante uma finesse originada pelo tempo de contato das leveduras com o vinho durante a segunda fermentação. Ele explica que, quando o vinho já está com as leveduras há mais de oito meses, elas começam um processo chamado de autólise (elas se auto destroem), liberando os aminoácidos, que possuem os aromas tão comumente associados aos grandes espumantes: pão torrado, mel, manteiga. Esses aromas combinados com um bom vinho base garantem o principal atrativo da bebida.
No método Charmat, por outro lado, explica Lona, as leveduras têm um contato mais breve com o vinho e encarregam-se de ressaltar as características do vinho base, como frescor e acidez, sem, no entanto, deixar marcas de sua passagem, fazendo desse um espumante mais ligeiro, fácil de beber e muitas vezes mais gastronômico. O meio do caminho, nesse caso, seria o Charmat longo, que permite que as leveduras atuem por mais tempo no vinho, mesmo que ele esteja em um tanque de aço inox, trazendo logo de início um perlage mais delicado e semelhante ao obtido no método tradicional.
"Sempre digo que comparar os dois métodos é como comparar vinhos tintos jovens e envelhecidos. Num predomina a fruta, o frescor, a vinosidade, noutro a complexidade dada pela fruta seca, a baunilha da madeira, a textura dos taninos domados", revela Lona. "Nos espumantes, é a mesma coisa. Os do método Charmat são mais leves, frescos, frutados - nem por isso com qualidade inferior -, e os do método tradicional são mais encorpados, com mais cor, elementos organolépticos mais complexos e por isso mesmo são vinhos de consumo mais dirigido", afirma.
Para os apreciadores de espumantes, sejam quais forem os estilos e métodos, fica a certeza de que cada garrafa guarda um pequeno segredo, um mistério de uvas frescas e ácidas que celebram a capacidade do homem de compreender e utilizar as nuances da natureza em favor do prazer, da celebração, dos ciclos que se fecham e cumprem-se ao som final - inequívoco - de uma rolha liberta de Champagne.


CHAMPAGNEFrequentemente, o nome Champagne é utilizado de forma equivocada para se referir a qualquer tipo de espumante. Na verdade, Champagne é só o espumante produzido na França, na região demarcada que leva o mesmo nome. Além disso, Champagne somente pode ser produzido pelo método Champenoise e a partir das uvas tintas Pinot Noir, Pinot Meunier e da branca Chardonnay.
CRÉMANT
Espumantes produzidos na França, em regiões como Borgonha, Limoux e Loire, entre outras, respeitando as especificações de cada uma das AOCs. É feito pelo método tradicional.
PROSECCO
Só recebem esse nome os espumantes produzidos nas cidades de Connegliano ou Valdobbiadene (no Vêneto, Itália), elaborados no método Charmat e com as uvas da casta Prosecco.
ASTI
Espumante meio-doce e com baixa graduação alcoólica (6 a 7%) elaborado com uvas Moscato na cidade de Asti, na Itália. É produzido através de uma variação do método Charmat, na qual a base é um mosto - e não um vinho -, que passa por primeira e única fermentação em grandes tanques.
FRANCIACORTA
Produzido pelo método tradicional a partir de uvas cultivadas dentro nas colinas de Brescia, na Lombardia, a partir das uvas Chardonnay e Pinot Blanc, com 15% de Pinot Noir.
CAVA
Nome dado aos espumantes espanhóis, em sua maioria produzidos pelo método Champenoise na região da Catalunha a partir das uvas Macabeo, Xarel-lo, Parellada e Chardonnay.
SEKT
Nome dado aos espumantes alemães majoritariamente feitos pelo método Charmat. Podem ser produzidos a partir de uma variedade de uvas e até mesmo utilizando-se vinhos base vindos de fora da Alemanha, desde que o processo de segunda fermentação ocorra em território alemão. (da revista Adega ).

sábado, 18 de dezembro de 2010

Um mapa dos relacionamentos humanos na internet

O mapa acima foi criado por Paul Butler, funcionário da área de engenharia de dados do facebook. Simulando as conexões entre os usuários do facebook, a maior rede social do planeta com mais de 500 milhões de adeptos, dono do maior catálogo da vida humana já criado, ele obteve essas linhas traçadas que como ele bem definiu; " parecem rotas de aviões, rios ou até mesmo fronteiras políticas, mas na verdade são relacionamentos humanos reais ".

Na mesma análise ele verificou que quanto mais branca a tonalidade nas linhas maior o número de conexões (links) entre computadores ( pessoas). Olhando melhor a imagem ( clique nela para ampliá-la), destaques para a América e a Europa. No Brasil, o destaque fica para o sudeste e sul do país, que ainda mantém o orkut como rede social de maior uso - veja aqui , outro post do blog que mostra as redes sociais no mundo.

Os números da internet no Brasil em 2010

Neste infográfico você obterá informações sobre o uso da Internet no Brasil no ano de 2010. O gráfico foi elaborado com base no Censo 2010, em uma pesquisa da F/Nazca (que pode ser baixada aqui) e em dados do Ibobe Net Ratings. ( do blog o jornalista ).

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Um cinema à energia solar


SolarAid | Where donations go | Solar Roller from Brad Bell on Vimeo.

Um interessante  projeto apoiado pelo grupo Barclays está levando cinema as comunidades rurais carentes do Congo, em pleno continente africano. A iniciativa de caráter cultural, apresenta filmes nas comunidades utilizando um veículo que utiliza energia solar para fazer funcionar o cinema. Além de ser uma ótima forma de operação, ela se contrapõe ao intenso uso do querosene nas comunidades, como forma de energia renovável.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

O Museu do Louvre homenageia um Ipojucano

Maria das Graças e o livro do café - óleo sobre tela 60 X 50 , Marcos Medeiros 2010
Passados 6 meses da exposição em Paris na Galeria Everarts, o artista plástico Ipojucano, Marcos Medeiros, tem, a partir de hoje, uma das suas inúmeras telas (acima) expostas no Museu do Louvre. A abertura do evento, que contará com obras de artistas de outros países, será feita pelo Presidente Sarkozy, mostrando a sua importância  no mundo das artes plásticas. 

Divulgar a arte de Marcos, que tive o prazer de conhecê-lo 12 anos atrás, sempre foi uma enorme satisfação para mim, e este post é apenas mais um como tantos outros que ainda passarão por aqui,  mostrando a beleza da sua arte. Aqui, aqui, aqui e aqui, vocês saberão o por que desse artista hoje ter uma obra sua exposta no Louvre. Apenas para finalizar o post, transcrevo palavras do próprio Marcos, enviadas ao blog, sobre esse grandioso momento da sua vida;
"O fato de expor em Paris, onde a arte tem a mesma importância da educação, do trabalho e da alimentação já me deixa feliz por perceber que meu trabalho pode ser melhor do que eu mesmo posso julgar. E desta vez, tendo sido aceito pela comissão julgadora da SNBA, Société Nationale des Beaux-Artes (1890) para expor no Salon du Carrousel du Louvre, um dos mais importantes salões de arte da Europa, me dá a certeza de que minha proposta quanto artista, em 25 anos de carreira foi compreendida, e posso estar no caminho certo para representar o Brasil, sabendo que artistas como: Camille Claudel, Rodin e Matisse, entre outros tantos mestres, participaram do mesmo SALÃO DE ARTE.
Sei que tem uma obra minha no Catálogo Oficial du Louvre, ainda não o vi, mas já estou sabendo que está magnifico. E no mais, ter um quadro que pintei na minha cidade Ipojuca dentro do MUSÉE DU LOUVRE, o mais importante museu do mundo, onde está “A Monalisa” de Leonardo da Vinci é um acontecimento que jamais sonhei, nem mesmo depois de morto."

Luzes do natal


quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

A 1a caminhada no espaço fora da Estação Espacial Internacional

Quarenta e cinco anos atrás um astronauta russo foi escolhido para a primeira caminhada fora da estação espacial internacional. NESTE LINK, você poderá acompanhar a caminhada e ver um interessante infográfico com a simulação da saída e retorno do astronauta da estação.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Wanderfly, um site que organiza sua viagem

Em sua versão beta, o site Wanderfly, é mais um entre tantos outros que tenta facilitar a vida de quem tenta viajar ou organizar sua viagem. A forma como ele apresenta as informações é que é o diferencial e faz ele se destacar perante os demais. Ele já conta com 1200 destinos turísticos cadastrados, incluindo destinos do Brasil, e além de pesquisar tarifas aéreas e hospedagem, de acordo com o orçamento fornecido por você, ele sugere restaurantes, bares, teatros, shows, etc. do seu destino, tudo isso em uma unica página, tornando-o de  muita praticidade. Vale a pena testá-lo, indicando o destino da sua próxima viagem.

domingo, 12 de dezembro de 2010

As melhores imagens de 2010 do TotallyCoolPix

O ônibus espacial Endeavour está em silhueta contra o fundo do horizonte da Terra antes da acoplagem com a Estação Espacial Internacional nesta foto tirada por um membro da tripulação da Expedição de 22 de janeiro à 09 de fevereiro de 2010 e lançado pela NASA 12 de fevereiro de 2010,
O TotallyCoolPix é um blog de fotografias que traz notícias e fatos do mundo contados pelas lentes dos fotografos. Confira abaixo mais algumas imagens.

sábado, 11 de dezembro de 2010

A história do vinho no Brasil


Daria um filme ou até uma série de televisão contar a história do vinho no Brasil. Seria uma narrativa repleta de aventuras, frustrações, vitórias, sofrimentos, protecionismos e até patriotismo maligno.
O povo brasileiro, alegre por natureza, ainda não descobriu o quanto a sua felicidade seria mais completa se consumisse mais vinho. Tratado até recentemente como bebida de uma "elite esnobe", o vinho hoje já é encarado como uma bebida normal e o consumidor neófito vem descobrindo que sempre existe um vinho para o seu gosto e que cabe em seu bolso. Assistimos hoje uma revolução no consumo, mas essa euforia tem só 40 anos, porque foi só a partir dos anos de 1970 que o vinho começou a se expor ao consumidor e recebeu uma roupagem de comunicação que não tem volta.
Conhecer essa história é uma bonita viagem que parece não ter fim.

Desde Cabral a Brás Cubas
Partindo rumo ao desconhecido, a frota de Pedro Álvares Cabral zarpou de Lisboa no dia 9 de março de 1500. Para manter o nível da tripulação em alta, preparar e higienizar alimentos, dar vinhos para as missas diárias celebradas em cada uma das 13 naus de sua esquadra, um dos navios foi ricamente abastecido de um vinho tinto adquirido na antiga propriedade conhecida pelo nome de Pêra Manca, no Alentejo.

Em uma viagem de aventura, com tempestades a assolar a frota, é natural que o vinho não tenha se mantido bom, tanto que os dois índios que foram levados a presença do almirante Cabral não gostaram do que provaram e cuspiram o líquido todo. Aqueles nativos estavam acostumados a degustar o Cauim, um fermentado obtido da mandioca. Sendo assim, o Cauim é o primeiro vinho dessa nova terra.

Um fidalgo chamado Brás Cubas, nascido no Porto, foi o primeiro viticultor do Brasil


Em 1531, a coroa portuguesa envia Martim Afonso de Souza para dar início ao domínio efetivo da "Nova Terra". A partir de março de 1532, um fidalgo chamado Brás Cubas, nascido na cidade do Porto, torna-se o primeiro viticultor do Brasil. Após fundar a Vila de Santos e o primeiro hospital dessa terra, ele manda cultivar as cepas trazidas de Portugal nas encostas da Serra do Mar, onde hoje se localiza a cidade de Cubatão. Não dando certa a experiência, Brás Cubas sobe a serra e, aconselhado por João Ramalho, implanta um vinhedo "pelos lados de Tatuapé", sendo este empreendimento mais bem produtivo, tendo recebido uma citação do padre Simão de Vasconcelos como "as fecundas vinhas paulistanas". Ao mesmo tempo, os índios que por aqui habitavam eram grandes mestres na arte de preparar bebidas, tanto que esse padre conseguiu identificar 32 tipos diferentes de vinhos fermentados de raízes de frutas.

O vinho comum já era parte da riqueza da cidade de São Paulo (retratada por Debret ao lado) por volta do ano de 1640. Na mesma época, os holandeses chegaram ao nordeste do Brasil e Maurício de Nassau iniciou o cultivo na ilha de Itamaracá
A vinha como forma de assentar o homem

São Paulo parecia ter a vocação para a grande produção de uvas e consequentemente vinhos. As Bandeiras, que partiam de Piratininga, levavam estacas de videiras para serem cultivadas, pois era mais um item que ajudaria nas conquistas de nosso vasto interior, ao mesmo tempo por ser uma cultura de fixação do homem à terra e que ajudava na ocupação do vasto território.
Com a instituição por Dom João III das Capitanias Hereditárias, o Brasil foi loteado em 14 partes, embora só duas dessas Capitanias tiveram sucesso, a de Pernambuco e a de São Vicente. Mesmo assim, o tráfego de vinhos vindos de Portugal aumentava a cada dia em todo território brasileiro.
O vinho comum, rude, sem nenhuma qualidade, já era parte da riqueza da cidade de São Paulo por volta de 1640. Sua importância era grande e os vinhedos do município se estendiam para além do Tamanduateí, chegando até Mogi das Cruzes. Com isso, a primeira Ata da Sessão de implantação da Câmara de São Paulo, de 1640, tratou da padronização da qualidade e dos preços dos vinhos aqui produzidos.

Concorrência do açúcar e ouro
Neste mesmo período, os holandeses chegaram ao nordeste do Brasil e logo se dedicaram à exploração do açúcar. Quase uma centena de engenhos no entorno de Recife e interior de Pernambuco pertencia a judeus holandeses e cristãos novos portugueses. Para suprir o consumo de vinhos dessa gente, quer para acompanhar os ritos religiosos ou para as refeições, Maurício de Nassau inicia o cultivo de videiras na Ilha de Itamaracá e sem nenhuma modéstia revela:
"São as melhores uvas desta terra", tanto que manda pôr três cachos das mesmas no Brasão d'Armas da ilha, criado pelo pintor Franz Post.

Logo toda a euforia agrícola que o vasto território oferecia foi posta de lado com a descoberta de ouro "nas Gerais e em Goiás". Teve início então o abandono em todo o Brasil das culturas agrícolas e o sonho de ficar rico com o ouro da noite para o dia tomou conta do povo. Chegou-se ao cúmulo de faltar alimentos em todo o território, porque os braços que antes cultivavam e colhiam agora lavravam o ouro.
Assim, um barrilete de 5 litros de vinho era vendido em Vila Rica por 700 gramas de ouro. O vinho acabou virando objeto de desejo e símbolo de riqueza. Tanto que, em São Paulo, um certo padre Pompeu, que possuía grandes vinhedos e um enorme rebanho foi assim descrito pelo historiador Charles Baxer: "Um paulista que era padre secular e abastado senhor de terras, atuando igualmente como agiota e banqueiro".


Euforia agrícola durou apenas até a descoberta de ouro


Proibição da manufatura à abertura dos portos
Definitivamente nesta época, o vinho já era um item de primeira necessidade que gerava uma boa receita no comércio, ao mesmo tempo em que era um prêmio a todos aqueles europeus que aqui estavam, pois esse néctar ajudava a matar um pouco a saudade da terra natal.

Com o Brasil crescendo, ficando rico, algumas pequenas indústrias iam surgindo, fato que retirava um bom número de receita de Portugal. Então, como éramos colônia, a rainha Dona Maria I baixa um alvará em 5 de janeiro de 1785 proibindo toda a atividade manufatureira no Brasil. Nada podia ser transformado e depois vendido, tudo tinha que vir de Portugal. Seguramente esse alvará sepultou a jovem indústria vitivinícola no Brasil.
Com Napoleão infernizando a Europa, a família real portuguesa chega ao Brasil em 1808. Com ela, 90% da corte e mais centenas de pessoas letradas e profissionais liberais vieram também. Os 13 anos de permanência de Dom João VI no País, com a sua corte e a abertura dos nossos Portos, trouxeram muitos vinhos para cá de todas as partes do mundo.
No entanto, não se pode esquecer que, a partir de setembro de 1756, Portugal nos impôs grandes cotas de Vinho do Porto, através dos escritórios sediados em Recife, Salvador e Rio de Janeiro, da Companhia Geral da Agricultura dos Vinhos do Alto Douro. Todo Vinho do Porto que os ingleses não compravam, comprava o Brasil.

Independência e imigrantes
Em 1821, Dom João VI retorna a Portugal e grande parte da sua corte o acompanha. Seu filho, o príncipe Pedro, já então casado com Dona Leopoldina, filha do Imperador da Áustria, cuida dos destinos do Brasil, até que após o 7 de setembro de 1822 torna-se o Imperador Dom Pedro I.

Dona Maria I (à esquerda) baixou alvará proibindo atividade manufatureira em 1785, o que sepultou a jovem indústria vinícola. Antes, Portugal já impunha a compra de cotas de Vinho do Porto. Com Dom Pedro I (à direita) começa a ocupação das terras ao sul do Brasil
Desse período do Brasil Colônia até o início da República, em 1889, nossas relações com os vizinhos do sul (Argentina, Uruguai e Paraguai) sempre tiveram problemas. As terras do hemisfério sul eram muito disputadas devido às suas riquezas naturais. Para por fim a isso, Dom Pedro I autoriza o fluxo migratório para a ocupação daquelas terras. Em 1824, chegam os alemães formando a primeira colônia, a de São Leopoldo, próxima a Porto Alegre. Logo se deu início a uma atividade industrial.


Fluxo imigratório italiano para a região da Serra Gaúcha perdurou por 10 anos

Já no reinado de D. Pedro II, o movimento pelo fi m da escravidão crescia a cada dia. Em 1857, a Lei Euzébio de Queiroz decreta o fim do tráfego negreiro para o Brasil. Fatores como esse e mais a necessidade da ocupação territorial do País intensificam a criação de uma política imigratória.


Os italianos
A Itália que hoje conhecemos, criada a partir de 1870, vivia dias de miséria, incertezas e amargura. Atravessar o Atlântico e ter um punhado de terra só seu - de onde pudesse tirar o sustento de sua família - era o sonho dourado de milhares de italianos. As duas necessidades se completaram entre os anos de 1870 e 1875. Assim, o exército brasileiro mapeia uma grande porção de terra na Serra Gaúcha, traça estradas, divide lotes com tamanhos diversos e inicia a venda desses lotes às famílias italianas, que tinham 12 anos para pagarem por essas terras.

Então, uma verdadeira odisséia implantou-se na Serra, abastecida de determinação e coragem desses imigrantes italianos nascidos no Vêneto, Lombardia e Trento. Um grande fluxo migratório perdurou por 10 anos e esse povo deu início ao que chamamos de "indústria vinícola brasileira".

A cidade de Bento Gonçalves em 1901
Implantando vinhedos idênticos aos de sua terra, mas com uma uva americana, a Isabel, o vinho brasileiro saiu da produção familiar e, aos poucos, foi virando um negócio. Enquanto esse vinho circulava na Serra Gaúcha, as dificuldades eram poucas, mas novos mercados precisavam ser abertos. Então, os carroções e até mesmo o lombo dos burros eram os meios de transporte para que o vinho descesse a Serra e encontrasse o consumidor final. Muitas foram as perdas nesses primeiros tempos. A falta de higiene e cuidados básicos, muitas vezes, comprometia safras inteiras.


Em 1912, é fundada a Federação das Cooperativas do Rio Grande do Sul

A mão do governo e as cooperativas

Alguns produtores mais ousados não gostavam de ver seus vinhos comprados a preços irrisórios, especialmente depois de saberem que esses mesmos vinhos eram vendidos por até cinco vezes mais nos grandes centros de consumo. O governo estava atento, não pelo fato de proteger o produtor, mas sim porque essas transações comerciais não rendiam nada de impostos.

É do ano de 1910 em diante que vão surgindo as empresas de vinho no Brasil, pois o governo federal queria arrecadar impostos sobre a produção e comercialização das uvas e dos vinhos. Para instruir os novos produtores a se organizarem, o governo contratou o advogado italiano José Stefano Paterno, expert em montagem de cooperativas, que obtivera muito sucesso com a implantação das mesmas na Itália e no Paraguai. Assim, em pouco tempo, mais de 30 cooperativas estavam organizadas e, em 1912, é fundada a Federação das Cooperativas do Rio Grande do Sul.
Após esse júbilo, uma série de crises durante o governo do Marechal Hermes da Fonseca fez com que o sistema de cooperativas praticamente se desfizesse e os negociantes individuais de vinhos assumissem a posição de "única salvação" para a jovem e inexperiente indústria vinícola.


Vinhos com nome e sobrenome
Ficava patente que o agricultor familiar deveria ser treinado com afinco nas artes de preparar e implantar vinhedos, colher e elaborar vinhos e gerir o comércio dos mesmos. Para colocar a casa em ordem, a Escola de Engenharia de Porto Alegre contrata, na Itália, um grupo de experientes professores liderados pelo enólogo e engenheiro Celeste Gobbato, que se tornaria o líder de uma revolução pacífica na Serra Gaúcha, cujos resultados podemos sentir até os dias de hoje. A partir desse período, o brasileiro começa a conhecer vinhos que tem nome e sobrenome. É esse o marco divisório da cultura artesanal para uma indústria forte que nunca mais parou de crescer.


A partir de 1920, o produtor, agora com mais experiência de campo, dá os primeiros passos na busca de maior qualidade para os seus vinhos. Ele começa a olhar para as uvas vitiviníferas, cujo rendimento na produção é menor, mas a qualidade do produto é muito maior.
Os vinhos elaborados com a uva Isabel e alguns de Bonarda começam a fazer escola, primeiro envasados em cartolas (pipas) de 400 litros, de madeira de grápia, e são comercializados a granel nos grandes centros, como São Paulo e Rio de Janeiro. Em seguida, surge a figura do garrafão de 5 litros que, depois de arrolhado, recebia um lacre de gesso branco. Uma vez aberto, o ideal era consumi-lo todo, mas tal não acontecia, o que prejudicava muito a qualidade.
A prática de falsificar o vinho gaúcho nos grandes centros consumidores do Brasil foi o ponto alto para a criação, em 1927, do Sindicato Vinícola do Rio Grande do Sul, com sede em Porto Alegre, que passou a funcionar como regulador da oferta e da procura, e controlando a produção e a comercialização de todo o vinho produzido no Rio Grande do Sul.


Em 1929, José de Moraes Velhino reúne um grupo de amigos e funda a Sociedade Vinícola Riograndense, cujo rótulo nascido dessa sociedade - Granja União - faria história no Brasil. Além de comprar e escoar toda a produção de uva e vinho de Caxias do Sul, a Sociedade implantou o projeto Granja União, cultivando muitos hectares com diversas cepas vitiviníferas europeias. Até um grande parreiral da uva portuguesa do Douro, a Souzão, foi implantado. Naquela época, o vinho mais vendido no Brasil era o Porto. Então, não custava sonhar em fazer um vinho semelhante.
A partir de 1920, os produtores começam a olhar para a qualidade
Como resultado positivo, a Sociedade estimulou aos demais produtores e, assim, no início dos anos 30 a Serra Gaúcha assistiu ao nascimento de mais de 25 cooperativas, muitas delas resistindo bravamente até os dias de hoje e fazendo muita história com a gama de vinhos que disponibiliza no mercado.


Vinícola Aurora ajudou a tornar o vinho popular com seu Sangue de Boi
As referências do vinho da Serra Gaúcha
Acompanhando o crescimento do comércio, o vitivinicultor gaúcho ia, aos poucos, se escolarizando em sua arte. Deve-se ao grande professor italiano que fincou raízes no Brasil, Celeste Gobbato a edição do livro "Manual do Vitivinicultor Brasileiro", onde tudo o que fez e testou na Estação Experimental de Viticultura e Enologia, instalada em Caxias do Sul, era apresentado de forma ilustrada e muito didática. Este manual foi tão lido quanto a Bíblia na Serra Gaúcha.

Chegamos à década de 1940 e o Brasil conheceria três grandes "leões" nesse mundo da uva e do vinho: os médicos Luiz Pereira Barreto e Campos da Paz e o agrônomo Julio Seabra Inglez de Sousa. Os dois primeiros insistindo e provando que o Brasil tinha grande potencial para investir na vitivinicultura, fazendo cultivar cepas resistentes ao nosso clima, em que os altos índices de umidade provocaram muitas doenças nas castas mais delicadas. Já o professor Inglez de Sousa, da Escola de Agronomia Luiz de Queiroz, de Piracicaba, em São Paulo, estudava in loco e academicamente toda a vitivinicultura brasileira. Seu livro "Uvas para o Brasil" até hoje é considerado um clássico e um marco nesse assunto.



Varietais, Sangue de Boi e nomes alemães e franceses
Reinava no início dos anos 50 a coleção de vinhos varietais da Granja União de Caxias do Sul. A fama desses vinhos era tanta que o brasileiro foi se acostumando a pedir vinhos pelo nome de suas castas. Assim Cabernet, Merlot, Riesling, Bonarda, Malvasia di Candia e tantas outras foram criando nichos de admiradores pelo território nacional. No campo dos vinhos populares, o Sangue de Boi da Cooperativa Vinícola Aurora iniciou seu domínio e alguns milhões de garrafões de 5 litros passaram a conviver intimamente nos lares do Brasil.

No início da década de 70, a indústria vinícola nacional dá o seu segundo grande salto. A qualidade encontrou no marketing a sua grande aliada, os rótulos começam a ser bem elaborados e as marcas com nomes franceses e alemães passaram a dominar o mercado, como Château Duvalier, Château D'Argent, Saint Honore, Jolimont, Château Lacave, Clos de Nobles, St. Germain, Conde Foucauld, Bernard Tailand, Forestier, Gran Bersac, Katzwein, Nachtliebewein, Loreley, Kiedrich, Johannesberg etc. Os nomes alemães, por sua vez, ainda aproveitam a grande onda de sucesso no Brasil dos vinhos alemães importados de garrafa azul.

Nos anos 50, reinava a coleção de vinhos varietais da Granja União, de Caxias

Ações isoladas de qualidades superiores como as apresentadas pelo viticultor e sonhador Oscar Guglielmone, com o seu vinhedo localizado em Viamão, despertavam curiosidades entre os enófilos de primeira viagem. Mas a grande virada ainda estava por vir. E ela seria dada com o interesse das multinacionais das bebidas pelos vinhos do Rio Grande do Sul.


"Invasão estrangeira" e o vinho como negócio
Em um espaço de quase 10 anos instalaram-se no sul do Brasil as poderosas Heublein e a Seagran. Da Itália vieram a Martini e Rossi e a Cinzano, associada à Chandon, da França. Dos Estados Unidos, a Almadén.

Comprando vinícolas familiares tradicionais ou simplesmente começando do zero, esse pessoal acordou o vitivinicultor gaúcho ao mostrar que a modernização era um fato real e a administração científica viria para se sobrepor à administração familiar. Ou seja, todos acordaram para uma realidade que não haveria de ter retorno: o vinho é um negócio.
Embora todos sempre tivessem muito do que se orgulhar de seus antepassados, o negócio do vinho era mais forte e ágil do que as lembranças. Profissionais tarimbados de outros países foram chegando e, aos poucos, impuseram suas teorias e práticas. Junto delas, o pessoal do Colégio de Viticultura e Enologia (CVE) iniciou esse progresso, refez seu currículo e amadureceu para que anos mais tarde pudesse ser implantado um curso superior de enologia. Nomes como Phillipe Coulon, Dante Calatayud, Adolfo Lona, Ernesto Cataluña iam se firmando como criadores de novos estilos de vinhos.



Mais recentemente, produção vitivinícola se modernizou e foi em busca de novos terroirs, indo parar até no Vale do São Francisco
Renovação, busca de novos terroirs e novo saber
Muitas famílias descendentes dos primeiros imigrantes italianos entenderam bem o que se passava e não deixaram escapar a oportunidade de se profissionalizarem oficialmente, criando então novas empresas ou solidificando as já existentes com um alto nível de sofi sticação técnica e muito conhecimento empresarial. Daí surgem Miolo, Pizzato, Lovara, Dal Pizzol, Dom Cândido, Valduga, Lidio Carraro, Dom Giovanni, Pedrucci, Marson, Valmarino e tantos outros que, junto dos mais antigos como Cooperativa Aurora, Salton, Cooperativa Garibaldi, La Cave, redesenham todo o cenário vinícola nacional. Eles não se sentem mais intimidados em inovar, chegando a descer a Serra e buscar novos horizontes para os seus vinhedos, indo cultivar grandes extensões de parreiras projetadas e ordenadas no Vale do São Francisco, no nordeste do Brasil, na Serra Catarinense e na região da Campanha Gaúcha, no extremo sul do Brasil, na fronteira com o Uruguai.

Junto com tudo isso surge, a partir de 1980, o movimento organizado dos enófilos através da criação de confrarias e entidades profissionais que proliferam por todo o território nacional. No início dos anos 90, caem as barreiras de importação e o Brasil, juntamente com os Estados Unidos, Inglaterra e Japão, forma o quarteto que mais dispõe de vinhos do mundo todo.

Brasil vive atualmente o desafio de aumentar o consumo per capita
Aparecem os especialistas, jornalistas ou não, que se dedicam a disseminar o conhecimento do vinho, pois o brasileiro tem sede de saber, embora ainda com o consumo pífio de 2 litros de vinho per capita.
Vivemos o nosso melhor momento, embora alguns retrógrados e aventureiros do vinho sonhem em voltar ao início do século XX, querendo impor controles tributários sobre o vinho, como se tivéssemos governos competentes para fazê-lo. O nosso vinho é uma realidade, ainda iremos nos orgulhar e muito dos espumantes que produzimos. Por hereditariedade, o brasileiro é alegre e o vinho do Brasil só ajuda a manter esse perfil diferenciado de nosso povo  ( da revista Adega ).

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